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Por Caroline Carvalho

ARTIGO: O medo de nossos Gestores Culturais


Tenho vivenciado diariamente o espetáculo que é o poder público e sua relação com a arte e os artistas. Nessa vivência cotidiana o primeiro questionamento a que me faço é, o poder público compreende a função da arte em nossa sociedade?

Parece-me que a resposta é não. Afinal, esperamos que uma fundação cultural fomente justamente a CULTURA e a produção artística de uma cidade, mas quantas das fundações culturais do nosso estado o fazem. Sinto-me na obrigação de informar ao poder público que a função da arte é a de construir a cultura de uma comunidade, é criar história, é sensibilizar uma sociedade e é também propiciar novos conhecimentos e movimentos ao espectador atento.

Saibam portanto que fomentar a arte é justamente construir uma sociedade melhor, isto já me parece ser mais do que um bom motivador.

Um segundo questionamento a que me faço é, porque a fundação não se interessa em conversar com aqueles que produzem arte¿

Afinal uma fundação é um espaço público instituído e construído para abrigar, auxiliar e encaminhar justamente os produtores de arte, ou será que também precisamos ensinar ao poder público que uma fundação é um espaço público e que público, como podemos observar no Dicionário Michaellis, é adj (lat publicu) 1 Pertencente ou relativo a um povo ou ao povo. 2 Que serve para uso de todos. 3 A que todos têm o direito de assistir. 4 Comum. 5 Que diz respeito ao governo-geral do país e suas relações com os cidadãos. 6 Que se faz diante de todos. 7 Que é conhecido de todos.

Observemos que uma fundação cultural tem como principal obrigação se comunicar, relacionar-se e, sobretudo, estar aberta aos produtores de arte, senão esse espaço público perde sua função e passa a ser somente mais um prédio. E vejam bem, não precisamos mais de prédios, precisamos construir nossa cultura, para não perdermos nossa identidade.

Há ainda um terceiro questionamento a que me faço, a arte promove o sensível, não seria importante, portanto, que aqueles que ocupam cargos em uma fundação percebam a importância de serem também sensíveis aos artistas?

Não estou falando em dar esmola ou bater no ombro e usar a palavra “ajuda”, como muitos o pensam, estou falando de empoderamento, de construção de uma relação saudável, produtiva e de crescimento.

Realmente tem me batido uma desolação quando observo que hoje lidamos com Fundações Culturais amedrontadas, quando estas deveriam estar fortalecidas para incentivarem aos artistas e a comunidade a produzirem e vivenciarem arte. Medo não é uma palavra que deveria existir para estes que atuam frente a uma Fundação, mas medo é o que nos parece diminuir as fundações de nosso estado hoje.

Os artistas, em sua grande maioria, esperam encontrar em uma Fundação Cultural um local de crédito e de desenvolvimento para seu trabalho, espera que uma Fundação Cultural os incentive a utilizar os espaços públicos, incentive-os a explorar possibilidades artísticas, incentive-os a manterem maiores relações artísticas. E com tristeza compartilho, junto de muitos colegas de profissão e de arte, portas mais fechadas do que abertas, muito mais silêncio e medo do que incentivo.

E não estou falando somente de Itajaí, cidade que hoje atuo artisticamente, estou falando de um estado geral, estou aqui vivenciamos este movimento de luta em prol de nos mantermos utilizando um espaço PÚBLICO, a nossa Casa Da Cultura. Joinville vivendo uma triste situação ainda mais avassaladora quando os artistas podem vir a perder a Fundação Cultural de sua cidade, também espaço PÚBLICO para promoção de arte.

Sinto-me precisando falar, e falar alto, porque me parece que a insensibilidade com a nossa ARTE e CULTURA tem gritado nos nossos ouvidos.

* Atriz do Grupo Porto Cênico – Graduada em Teatro e Mestre em Educação – Membro associada à REDE Itajaiense de Teatro e a Federação Catarinense de Teatro.


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